Vida

Mãe Natureza

Nasci e cresci em centros urbanos. Prédios altos, carros e motos barulhentos, poluição, asfalto, vizinhos com gostos musicais diferentes dos meus, violência de todos os tipos nas ruas, correria… caos. Tudo isso fez (e ainda faz) parte da minha vida cotidiana. Eu era – e meio que ainda sou – o que, aqui no Rio Grande do Sul, chamamos de “guria de apartamento”. Em poucas palavras: eu não sabia a diferença entre inço e grama. (E, honestamente, até hoje ainda acho que é tudo meio que a mesma coisa, e o que distingue uma coisa da outra é o nosso julgamento.)

Enfim…

Fui acampar uma vez. Era feriado de páscoa. Não era a minha primeira vez dormindo em uma barraca, mas era a primeira vez acampando “de verdade”, com tudo que um acampamento tinha direito – inclusive chuva, colchão molhado, banho de água fria em banheiro compartilhado (sem separação) e fazer as necessidades de cócoras.

Devido ao meu espírito aventureiro, encarei a situação com muita risada acompanhada pelo mantra “É só um fim de semana prolongado, relaxa e se diverte”. Por essa declaração fica claro para qualquer um que, ao final daquela aventura, meu pensamento não poderia ser outro senão “Acampamento… muito bonitinho, mas não me convida mais”.

Porém, não posso deixar de mencionar a (talvez única) melhor parte daquela função toda: o contato direto com a natureza.

Mesmo passando a vida entre paredes de concreto, em meio a uma selva de pedras, sempre – sempre – senti uma espécie de êxtase ao entrar em contato direto com a natureza.

Até pouco tempo, não sabia explicar, mas era uma sensação de liberdade que me encorajava a fazer coisas que nunca tinha ousado antes. Ao mesmo tempo em que era bombardeada por uma boa dose de adrenalina, sentia como se estivesse em constante estado de contemplação. E ainda é assim nos dias de hoje. A natureza, para mim, é como um carregador de baterias – assim como o sol.

Então, por que eu insistia em me manter afastada?

Minha mente, com todo o seu barulho cosmopolita e vícios de uma sociedade um tanto neurótica, não conseguia entender o que meu corpo tentava dizer quando enviava ondas de extremo bem-estar e prazer sempre que os meus pés encontravam a grama. Mas em vez de aproveitar a troca de energia natural que ocorre sempre que meu corpo toca a terra, eu ficava focada na sensação estranha de não ter uma sola de borracha sob os meus pés. Eu tinha esquecido como andar descalça sobre um piso natural.

Nunca tive plantas nos apartamentos em que morei. Eu seria capaz de matar um cacto (sem querer, é claro). Mesmo assim, quando era criança, nos primeiros anos da minha vida quando morei em uma casa, uma das minhas brincadeiras favoritas era fazer chás e comidinhas com as flores e a grama do meu pátio – e costumava dizer que eram remédios, poções mágicas.

Veja só… eu era mais sábia aos três anos de idade do que fui da adolescência até os 30.

Mas, finalmente, voltei ao meu estado normal e natural de ser.

Quando meu corpo jogou a toalha e minha mente entrou em colapso, quando percebi que era hora de voltar para as minhas raízes antes que o dano se tornasse irreversível, uma das minhas primeiras atitudes foi comprar uma planta.

Não pensei muito sobre o assunto, não foi algo planejado. Um dia, entrei no supermercado e vi aquela florzinha amarela delicada. Ela me lembrou dias de sol, dias cheios de cor e vida. Ela me lembrou de mim mesma numa outra vida. E, assim, trouxe ela para casa.

Essa plantinha foi a primeira do pequeno jardim que agora cultivo em vasos no meu apartamento. Hoje, aquela Pâmela com três anos de idade pode fazer chás e temperar comida de verdade com o que cultiva na varanda em meio a selva de pedras.

Tem sido assim nos últimos anos. Mas não é mais o suficiente. Eu quero um pátio, um jardim, uma horta. Eu quero dançar descalça sobre a terra e contemplar a lua enquanto a grama acaricia o meu corpo, quero sentar no chão sentindo a vibração do sol passar por cada célula minha até penetrar nas profundezas do solo. E quero ver meus gatos (e futuros cachorros) rolando e correndo felizes ao ar livre.

Quero esse contato direto com a natureza porque é disso que meu corpo precisa. Não somente o meu, mas o de todo mundo.

(Imagens: Annie Spratt)

Deixe uma resposta

error: Content is protected !!