Bruxa interior
Quando eu era criança, costumava fazer poções mágicas medicinais. Eu colhia grama e flores, colocava tudo numa caneca com água, pedia para a minha mãe ferver, depois falava algumas palavras mágicas e dava para minha avó beber. E ela bebia. Minha mãe falava “Não bebe isso, mãe”, mas ela retrucava que o meu remédio funcionava. (Vó, obrigada pelo voto de confiança.)
Acho que sempre fui um tanto mística. Lembro de praticar magia mesmo quando ainda nem sabia falar direito. Mas a primeira vez que tive contato oficial com a bruxaria foi no começo da adolescência. Antes disso, para mim, bruxas eram aquelas figuras estereotipadas de Hollywood. De lá para cá, foram muitas idas e vindas, momentos de alegria e outros de frustração, fases alternadas entre saber que posso fazer um feitiço eficaz e pensar que sou uma completa idiota por acreditar nisso. Mas hoje sei que a minha bruxa interior faz parte de quem eu sou e esteve sempre comigo, mesmo quando eu não me sentia tão… mágica.
Sei disso porque, em dias mais mundanos, me pego fazendo certas coisas de maneira inconsciente. Quando dou por mim, estou dançando sob o brilho da Lua Cheia ou recitando encantamentos para a Lua Nova, acendendo velas e incensos, consultando meus oráculos, conversando com fantasmas. Nesses momentos, sinto como se estivesse atendendo ao chamado da mulher sábia que habita nas minhas profundezas e entro numa espécie de transe, voltando ao meu estado natural e místico.
Gosto de andar descalça e sentir a energia da Terra fluindo sem interferências através de mim, trazendo de volta o equilíbrio do meu corpo e da minha mente. Gosto de manter contato com as estações do ano e seguir o ritmo delas porque descobri que, assim como a Terra, eu também funciono em ciclos. Gosto de observar as fases da lua, afinal, se ela pode influenciar as marés, também pode influenciar meu corpo – que é constituído basicamente de água.
Eu gostaria de me sentir poderosa e mística todos os dias, mas até mesmo a minha bruxa interior tem seus momentos “Por favor, não perturbe”. Então, quando ela está curtindo um ranço no canto dela – porque, às vezes, ela se parece muito com uma velha rabugenta -, uso meus oráculos quando fico em dúvida sobre alguma coisa ou não compreendo muito bem algum sentimento aleatório, que parece ter surgido do nada. Nesses dias, gosto de sentar na companhia deles e “bater um papo”. Sempre ajuda. Sempre.
E para os dias em que me sinto a personificação de uma deusa antiga… Bem, nesses dias eu gosto de transformar meus sonhos em realidade. Eles sempre se manifestam. Sempre.